
Maquiavel - considerado por
muitos o Pai da Ciência Política - defendia que em vez de tentar derrotar um
adversário sem um objetivo claro, será bem melhor gastar esse tempo e energia para
conseguir o que se deseja. Esta será a opção mais sábia, mas nem sempre a razão,
defendida por Maquiavel, prevalece sobre a emoção e, usando uma analogia com a
música de António Variações, quando a emoção vence “O corpo é que paga”. O objetivo, neste caso, deve ser seguir a razão, naturalmente.
Mas imaginemos que estamos
perante um dos piores cenários na atividade política onde somos apanhados entre
duas partes em conflito sem que, na génese, o conflito seja nosso ou sem que
possamos ter a garantia de uma conclusão com um resultado win-win, uma vez que
não controlamos a iniciativa.
Para muitos atores políticos esta
situação resolve-se dizendo a ambas as partes (sempre de forma isolada) aquilo
que pretendem ouvir, favorecendo uma postura de falsa lealdade que é quase
sempre exposta a longo prazo e que acabará por ter, como resultado final, a
perca de confiança de ambas as partes no indivíduo. Muitos dos dirigentes partidários
que mais tempo se perpetuam no poder adoptam esta postura que Adam Grant, autor
do livro “Dar e Receber”, caracteriza como a postura de “tomador” (apostam
sempre no resultado win-lose). É perverso mas é assim.
No entanto para outros (minoritários),
o cenário involuntário de aparecer no meio de um conflito que não é seu, revela
a necessidade de fazer uma escolha firme entre as partes, conseguindo a
perspectiva de ganho sem grandes danos colaterais, e tal como Sun Tzu, autor do
livro “Arte da Guerra”, defendia devemos apostar na ideia de que “É mais importante ser mais inteligente do
que o adversário do que mais poderoso”. Desta forma é possível garantir a
sua escolha e com o tempo conseguir restabelecer a confiança na parte preterida
inicialmente uma vez que, apesar de preterida, essa parte vai valorizar a
lealdade e coerência das escolhas e a prevalência da inteligência à força.
Há porém outras vezes em que
escolher uma das partes ou agradar a ambas não é possível e aí haverá um afastamento
óbvio e uma saída do conflito revelando um cenário onde a perspectiva win-win
não é clara no imediato e tendo assim clivagem com ambas as partes. Relembro
aqui a disputa interna da liderança do PSD onde Pedro Passos Coelho e Paulo
Rangel disputavam a liderança tendo José Pedro Aguiar Branco aparecido como uma
terceira via sem grande hipótese. Aguiar Branco é aqui a imagem do exemplo que
refiro, ou seja apesar das clivagens criadas durante a disputa eleitoral
conseguiu deixar a expectativa de um cenário futuro positivo e de entendimentos,
não alimentando assim represálias permanentes e fantasmas de conflito. Essa
postura deu resultados e José Pedro Aguiar Branco é hoje Ministro de Pedro
Passos Coelho.
Hoje defendo que ficar de fora da
acção política, de forma total, não é uma estratégia eficaz para quem se move
profissionalmente nesta área, pois enquanto a acção decorre à nossa volta seremos,
inevitavelmente, afectados por ela. Ou seja é muito melhor ser um “player”
competente, consciente e dedicado ao resultado positivo do que ser um espectador
ou um peão no jogo por outros liderado, sem grande compromisso com o resultado.
O compromisso com a atividade política
positiva que, apesar de promover disputas, pretende resultados positivos para
ambas as partes dessa mesma disputa, favorece os atores políticos que não
pretendam ser permanentemente usados por terceiros que vão enganado e
manipulando sempre com a perspectiva win-lose, favorecendo as divisões para capitalizar. Passos Coelho foi o paradigma deste exemplo de compromisso ao não
aceitar a demissão de Paulo Portas do Governo, obrigando assim o líder do CDS a
um entendimento que acabou por ser positivo para ambos e principalmente para o
projeto de Governo, garantindo a estabilidade e com isso um resultado win-win
para as duas partes.
A chave é negociar consigo mesmo
e definir os objetivos máximos, os médios e os mínimos a atingir para a
conquista pretendida. Abaixo dos mínimos é o fim da negociação e entendendo nós
os jogadores e as regras começaremos a jogar, de novo, com outros “players”,
mas sempre de forma que consigamos manter a nossa postura negocial alinhada com
os nossos valores e princípios pessoais e políticos. Sempre com a perspectiva
win-win mas com o desprendimento de quem escolhe livremente.
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