- 32,1% dos portugueses preferem um bloco central;
- 26,6 uma coligação à esquerda;
- 20,4% um governo minoritário do PSD/CDS;
- 11,2% não tem opinião;
- 5,9% governo PS/BE
- e por fim, com 3,8% um governo minoritário do PS.
Se pensarmos que o Livre foi o único defensor de uma coligação à esquerda com o PS e teve 0,72% dos votos, podemos ter uma ideia do conceito de democracia que paira pelo Largo do Rato.
Democracia à parte, numa perspectiva de realpolitik, a posição do PS é compreensível, ou pelo menos entendível. Estão a minimizar estragos e qualquer que seja a saída, o resultado é sempre mau.
Depois de ter ficado entalado entre a Coligação PAF e a esquerda radical, ou seja, entre a manutenção das políticas de consolidação económica e as políticas anti-austeridade, o António Costa está entalado entre perder votos para a esquerda, ou perder votos para a direita, ou mesmo, perder para ambos os lados e tornar-se o PASOK português.
No dia das eleições, poucas horas antes do discurso de derrota, o António Costa deve ter analisado os seguintes cenários:
Bloco Central, PSD/CDS/PS - Aqui o PS arrisca-se a perder o seu eleitorado de esquerda. Sendo o cenário mais natural para um partido humanista e democrático, é a única opção que garante um governo estável para 4 anos. Mesmo assim, o PS sabe que perderá o apoio da sua ala esquerda, muito provavelmente para o BE. A médio prazo ganha o país, perde o PS, ganha PSD, CDS, BE e eventualmente a CDU.
Governo apenas da coligação PSD/CDS, viabilizado pelo PS - neste cenário o risco mantém-se para o PS e, como tal, a probabilidade do PS se ver obrigado a roer a corda ao fim de um ano é elevada. Nesta situação o PS corre ainda o risco de não ter uma boa desculpa, ou uma desculpa que o eleitorado aceite, para fazer cair o governo. Esta situação poderá levar à repetição do sucedido em 1987 e a coligação vir a garantir uma maioria absoluta na sequência do incumprimento do PS. Havendo uma boa desculpa, o PS será novamente governo. A médio prazo podem ganhar PSD/CDS, ou mesmo o PS.
Governo maioritário de coligação PS/BE/CDU - A perda de votos do centro do PS para a coligação parece-me óbvia. As restantes consequências são pouco previsíveis, mas uma coisa é certa, nada será como dantes. Aqui o PS corre o risco de absorver grande parte da esquerda que apoia o BE. É o cenário mais perigoso para a CDU, correndo o risco de ser finalmente absorvida pelo BE, à imagem do que aconteceu no resto da Europa.
Governo maioritário coligação PS/BE - cenário mais favorável para a CDU que poderá capitalizar o voto de esquerda, após aquele que será, tal como os outros, e como aconteceu com o Syriza, um governo alinhado com as diretrizes europeias. Aqui surgirá provavelmente um novo partido, ou uma coligação duradoura, mais distanciada do centro e de difícil gestão. A probabilidade de queda e substituição por uma maioria absoluta de direita é elevada. A médio prazo ganha o PSD/CDS e a CDU.
Governo minoritário do PS - viabilizado pelo BE e pela CDU, trata-se do melhor cenário para a coligação PSD/CDS. A probabilidade de um dos partidos viabilizadores saltar é muito elevada. O PS pouca alternativa terá se não manter as politicas de austeridade, em particular porque este cenário trará uma enorme instabilidade dos mercados. É o cenário ideal para quem quer uma maioria absoluta de direita. A médio prazo ganha o PSD/CDS.
Resumindo, numa perspectiva de médio prazo:
- O melhor cenário para o PS é a viabilização de um governo minoritário do PSD/CDS;
- O melhor cenário para o PSD/CDS é um governo minoritário do PS viabilizado pelo BE e CDU;
- O melhor cenário para o BE é um governo de Bloco Central
- O melhor cenário para a CDU é um governo PS/BE.
- O melhor cenário para o país é uma coligação de Bloco Central.
Considerando o histórico de António Costa, ainda há a possibilidade deste estar a tentar deixar para o Presidente da República o odioso da questão, ou seja, perante o chumbo do governo liderado pelo partido mais votado, a bem da preservação do espírito democrático, acabar por não dar posse ao Governo liderado pelos derrotados... Neste caso volta a pairar o fantasma de 1987.
Retirada do Jornal de Negócios, 13/10/2015
1987, não 89
ResponderEliminarTem razão. Já corrigi. Obrigado
ResponderEliminar