Muito se debate sobre eventuais
cenários de configuração do Parlamento com capacidade e legitimidade para formar
Governo. A grande verdade é que a coligação teve um resultado muito bom face às
expectativas de muitos, inclusive no seio da própria coligação. Nem todos foram
crentes e acreditaram numa vitória. Muitos pensaram num Passos cansado,
desgastado, dado que tinha Governado três anos com a casa a arder e apenas um
com a casa a dar sinais de recuperação e vitalidade económica. Já as eleições
vinham longe, e a popularidade de Passos andava abaixo da linha de água decorrente
do desgaste a que teve de se submeter em nome do interesse nacional. Visto de
fora, em particular por uma certa comunicação social manietada, tudo indicava
que não havia uma leve hipótese de a coisa lhe correr bem. Mas a realidade aí
está, aos olhos de todos, demonstrando a resiliência de um homem e de um povo
aos sacrifícios pelos quais o país teve de passar. Tive oportunidade de
observar de perto a determinação do homem e cidadão, o que viria a revelar-se insubstituível
no político que teve em mãos a condução dos destinos do país. Sejamos claros: A
Coligação Portugal à Frente ganhou as eleições com uma maioria que apesar de
não ser absoluta, destacou-se consideravelmente do seu principal opositor, com
quem terá de fazer as pontes necessárias numa cultura de compromisso,
de procura responsável de soluções e de estabilidade Governativa. É à coligação
que cabe formar Governo. Não uma qualquer maioria negativa, que em tempo algum
se assumiu sequer como alternativa. E neste particular, o Partido Socialista,
dadas as circunstâncias, tem unicamente duas opções: ou se afirma como partido
do arco da governação, agindo responsavelmente na viabilidade de um Governo de
direita e das suas políticas legitimadas nas urnas, ou, pelo contrário, submete-se
à liderança da esquerda radical e dilui-se como partido de protesto. Desde 1976,
que os partidos que formaram o arco da governação aceitam o direito dos
vencedores em eleições a governar: foi assim em 1976, 1985, 1995, 1999, e 2009,
quando não houve maiorias absolutas, em que Mário Soares, Cavaco Silva, António
Guterres e José Sócrates puderam formar governo e viram os seus primeiros
orçamentos passar no parlamento. O PSD, o CDS e o PS nunca deixaram, entre si,
de dar uma oportunidade a quem venceu nas urnas. Tem sido assim o manifesto do
arco da governação.
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