A arrogância, a soberba, o culto da personalidade e a incapacidade de escutar os outros são pecados mortais que minam muitas sociedades democráticas contemporâneas.
Compete a cada responsável político
estar atento aos sinais da rua, sem nunca se fechar na redoma dos gabinetes à
prova de som. Nesta matéria, os sinais que nos vão chegando do mundo
contemporâneo – a começar por esta Europa que nos habituámos a considerar como
fortaleza inexpugnável perante os inimigos da democracia – são preocupantes.
Nos mais diversos países vai
aumentando a distância entre governantes e governados, cresce o
descontentamento perante a incapacidade revelada pelas instituições de
responder aos legítimos anseios do cidadão comum, avoluma-se a ameaça do ovo da
serpente dos extremismos e dos populismos, por vezes com matrizes ideológicas
opostas mas com uma inegável meta comum: contribuir para o descrédito de um
sistema político que durante sete décadas trouxe paz a um continente outrora
devastado pelas trincheiras da guerra.
Surgem problemas novos que exigem
respostas claras e concertadas dos responsáveis europeus. Problemas
relacionados com o aumento galopante dos fluxos migratórios impulsionados por
conflitos sem quartel em vastas zonas do globo que se estendem do Magrebe quase
aos confins do Oriente.
A Europa tem servido de refúgio a milhões de pessoas em desespero, mas não pode ficar à mercê de infiltrações terroristas que podem acobertar-se nestas caravanas de imigrantes com todo o seu potencial destruidor.
Isto exige, mais que nunca, esforços conjugados dos dirigentes da União Europeia de modo a acolher os verdadeiros refugiados em condições dignas e humanitárias enquanto se trava o passo ao fanatismo religioso que tantas vezes usa e abusa do desamparado idealismo de jovens sem raízes nem esperança.
A Europa tem servido de refúgio a milhões de pessoas em desespero, mas não pode ficar à mercê de infiltrações terroristas que podem acobertar-se nestas caravanas de imigrantes com todo o seu potencial destruidor.
Isto exige, mais que nunca, esforços conjugados dos dirigentes da União Europeia de modo a acolher os verdadeiros refugiados em condições dignas e humanitárias enquanto se trava o passo ao fanatismo religioso que tantas vezes usa e abusa do desamparado idealismo de jovens sem raízes nem esperança.
Também nós, à escala portuguesa,
devemos estar atentos aos sinais dos tempos. Criticando a irresponsável
demagogia dos vendedores de ilusões que prometem o paraíso para a manhã
seguinte, como se o crescimento económico e a prosperidade se construíssem com
estribilhos e chavões. Recusando extremismos e fanatismos de toda a espécie.
Combatendo sem tréguas os inimigos da democracia com a pedagogia da tolerância e apelos contínuos à razão. Fazendo da moderação uma virtude e do diálogo uma bandeira. Recusando a todo o momento a lógica da trincheira que nos faz imaginar em cada opositor um inimigo.
Combatendo sem tréguas os inimigos da democracia com a pedagogia da tolerância e apelos contínuos à razão. Fazendo da moderação uma virtude e do diálogo uma bandeira. Recusando a todo o momento a lógica da trincheira que nos faz imaginar em cada opositor um inimigo.
Esta atitude de tolerância, esta
capacidade de escutar os outros, este esforço permanente de estabelecer pontes
de contacto com os cidadãos devem ser preocupação constante dos políticos no
mundo contemporâneo, devassado pelo sectarismo ideológico e pelo fanatismo
religioso que por vezes não hesitam em recorrer à lei da bala para imporem os
seus dogmas.
Daí a importância do magistério
presidencial de Marcelo Rebelo de Sousa, iniciado na quarta-feira. Os primeiros
sinais emitidos pelo novo Chefe do Estado apontam no rumo certo. São sinais de inequívoco
respeito pelas ideias e crenças alheias, sem exclusão de ninguém.
E como a política vive muito de símbolos, nenhum foi tão significativo como a cerimónia ecuménica promovida pelo novo Presidente da República na mesquita de Lisboa. Num mundo de exclusões, num país onde a política acusa excesso de crispação, Marcelo deixou bem claro que será um líder inclusivo, funcionando como traço de união.
E como a política vive muito de símbolos, nenhum foi tão significativo como a cerimónia ecuménica promovida pelo novo Presidente da República na mesquita de Lisboa. Num mundo de exclusões, num país onde a política acusa excesso de crispação, Marcelo deixou bem claro que será um líder inclusivo, funcionando como traço de união.
É uma garantia acrescida para os cidadãos: no topo da pirâmide do Estado está um líder que saberá interpretar a voz dos portugueses anónimos. E é também um exemplo a seguir pelos restantes protagonistas do processo de decisão pública em Portugal, seja a que nível for: a política só faz sentido quando se desenvolve como verdadeiro serviço público.
Rodrigo Gonçalves
(publicado no Semanário OJE a 11/03/2016)
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